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16/05/2024 – 9:21
Um dia antes de Elon Musk demitir praticamente todos os funcionários da divisão de carregamento de veículos elétricos Supercharger no mês passado, eles estavam esperançosos com a reunião que a chefe do departamento, Rebecca Tinucci, teria com Musk sobre o futuro da rede de carregadores da Tesla, afirmaram quatro ex-funcionários da divisão à Reuters.
Após Tinucci cortar entre 15% e 20% da equipe duas semanas antes, em meio a demissões mais amplas na Tesla, eles acreditavam que Musk confirmaria planos para uma grande expansão da rede de carregadores.
A reunião não poderia ter sido pior. Musk, segundo os ex-funcionários, não ficou satisfeito com a apresentação de Tinucci e queria mais demissões. Quando ela se recusou, dizendo que mais cortes prejudicariam os fundamentos do negócio de carregadores, ele reagiu demitindo-a e toda sua equipe com 500 membros.
As saídas deixaram de cabeça para baixo uma rede amplamente vista como uma conquista emblemática da Tesla e importante impulsionadora das vendas de veículos elétricos.
Os Superchargers (supercarregadores) da Tesla representam mais de 60% das portas de carregamento de alta velocidade dos Estados Unidos, segundo estatísticas federais, e a empresa foi a maior recebedora até agora de 5 bilhões de dólares de fundos federais para carregadores.
Esta reportagem, o mais detalhado relato até agora sobre as demissões na equipe do Supercharger e suas repercussões, é baseada em entrevistas com oito ex-funcionários da divisão de carregadores, um prestador de serviço e um e-mail da Tesla enviado a fornecedores externos.
Apenas Musk e Tinucci estavam na reunião descrita à Reuters. As quatro fontes com conhecimento da reunião transmitiram à Reuters o que ouviram de gerentes do programa Supercharger.
Tesla, Musk e Tinucci não responderam a pedidos por comentários da Reuters.
Apesar da demissão em massa, Musk já fez publicações nas redes sociais prometendo continuar expandindo o departamento. Mas três ex-funcionários da equipe de carregadores disseram à Reuters que têm recebido ligações de fornecedores, prestadores de serviços e concessionárias elétricas, alguns dos quais gastaram milhões de dólares em equipamento e infraestrutura para ajudar a construir a rede da Tesla.
Uma carta enviada neste mês por um gerente de fornecimento global da Tesla a prestadores de serviço e fornecedores do Supercharger os instruiu a “por favor, segurar o início de projetos de construção recém-concedidos” e interromper compras de material, segundo uma cópia analisada pela Reuters. “Eu entendo que este período de mudanças pode ser desafiador e que não é fácil ter paciência quando se espera ser pago”.
A equipe de energia da Tesla, que vende produtos de energia solar e armazenamento de baterias para residências e negócios, recebeu a tarefa de assumir o Supercharger e ligar para alguns parceiros para fechar projetos de construção de carregadores em andamento, afirmaram três dos ex-funcionários da Tesla.
Um fornecedor disse que os funcionários da Tesla que entraram em contato com a empresa desde as demissões “não sabem de nada”. Ele afirmou que esperava que os projetos do Supercharger representassem cerca de 20% das suas receitas em 2024, mas agora planeja diversificar para evitar depender da Tesla.
Tinucci era uma das poucas executivas de alto escalão da Tesla. Ela havia recentemente começado a responder diretamente a Musk, após a saída do chefe de Bateria e Energia, Drew Baglino, segundo quatro ex-funcionários do Supercharger. Eles afirmaram que, historicamente, Baglino supervisionou o departamento sem muito envolvimento de Musk.
As demissões marcam o mais recente drama em um ano turbulento da Tesla, com Musk fechando ou adiando várias operações essenciais destinadas a impulsionar o crescimento rápido de vendas de veículos elétricos que os investidores esperavam. Ao contrário, Musk agora diz que a Tesla mudará seu principal foco para carros autônomos, um negócio ferozmente competitivo e mais arriscado, que pode demorar anos para ser desenvolvido.
A empresa divulgou sua primeira queda em vendas de carros no primeiro trimestre desde 2020, em meio à competição forte de fabricantes de veículos elétricos chinesas e menos demanda mundial por veículos elétricos. A Reuters publicou em abril que a Tesla abandonou planos para um carro mais barato, e há muito tempo aguardado, conhecido como Model 2. Isso colocou em dúvida os planos da Tesla para novas fábricas no México e na Índia, para onde Musk viajaria no mês passado para se encontrar com o primeiro-ministro Narendra Modi, antes de cancelar de última hora. Além disso, vários executivos foram embora em meio a amplas demissões ao redor da empresa.
EXPANSÃO MENOR DE CARREGADORES
A equipe de energia que foi alocada para a administração da rede de carregadores tem cargos similares, segundo dois ex-funcionários da Tesla. Mas os projetos de carregadores são fundamentalmente diferentes porque eles ficam em espaços públicos e exigem extensas negociações com concessionárias, governos locais e proprietários de terrenos, disseram.
A equipe de energia já estava com dificuldades para se manter em dia com sua carga de trabalho, afirmaram dois ex-funcionários da rede de carregadores. No entanto, quando as demissões ocorreram, em 30 de abril, Musk publicou que a empresa “ainda planeja ampliar a rede Supercharger, apenas em um ritmo menor”. Na sexta-feira, Musk publicou que a “Tesla gastará bem mais do que 500 milhões de dólares para expandir nossa rede Supercharger para criar milhares de NOVOS carregadores neste ano”.
Dois ex-funcionários do Supercharger disseram que o orçamento de expansão de 500 milhões de dólares é uma redução significativa do que a equipe havia planejado para 2024 — mas, ainda assim, um desafio que exige centenas de funcionários. Em uma análise entregue à Reuters, a empresa de pesquisa EVAdoption, de San Francisco, estimou que um investimento de 500 milhões de dólares neste ano se traduziria na Tesla construindo 77% menos portas de carregamento por mês nos EUA em comparação com o ritmo da fabricante até abril.
“A VER NAVIOS”
A Tesla apresentou suas primeiras estações de Superchargers na Califórnia em 2012, com Musk dizendo que a rede era um “divisor de águas” para os veículos elétricos que permitiria viagens longas e conveniência “equivalente a carros movidos a gasolina”.
O negócio de carregadores de veículos elétricos exige um investimento inicial substancial, e os analistas muitas vezes o consideraram não lucrativo. Mas a rede da Tesla era lucrativa antes das demissões, segundo quatro ex-funcionários da Tesla com conhecimento do desempenho financeiro do departamento.
Isso acontecia por causa do controle de custos e análise extensa da Tesla para escolher locais que atrairiam clientes ao longo de todo o dia, não apenas em horários de pico, quando o preço da eletricidade dispara. Um ex-funcionário do Supercharger afirmou que os custos por porta de carregamento da Tesla eram tipicamente pelo menos 50% menores que os dos competidores.
Ainda no mês passado, a Tesla afirmou em um comunicado ao mercado que precisava expandir os carregadores para “garantir uma disponibilidade adequada” aos consumidores, especialmente após fabricantes como Ford, General Motors, Toyota e Hyundai anunciarem que começarão a fazer carros compatíveis com os conectores de carregamento da Tesla, dando aos seus veículos acesso aos Superchargers.
Outro ex-funcionário disse que esse lançamento está “completamente comprometido” porque não haverá novos locais de carregamento suficientes em operação e que a empresa está apenas começando a implementar atualizações para permitir mais compatibilidade com os veículos de outros fabricantes.
Três dos ex-funcionários disseram que as demissões são um grande revés para a expansão de carregadores nos EUA por causa dos relacionamentos que os funcionários da Tesla haviam construído com fornecedores e concessionárias elétricas. A Tesla havia se tornado uma das maiores clientes de grandes concessionárias ao redor do país e muitas contrataram novos funcionários e planejaram nova infraestrutura com base nos planos de expansão da rede da Tesla, segundo os ex-funcionários.
Outras empresas podem conseguir preencher a lacuna, de acordo com os ex-funcionários, mas será difícil replicar a boa vontade construída ao longo do tempo com as concessionárias e outros prestadores de serviço a partir dos investimentos de larga escala da Tesla.
“É simplesmente lamentável que eles agora estejam a ver navios em todos esses projetos diferentes”, disse um ex-funcionário. “É muito triste ver todos esses relacionamentos queimados e pessoas muito bravas — e com razão”.
(Reportagem de Chris Kirkham, em Los Angeles, e Hyunjoo Jin e Abhirup Roy, em San Francisco)