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Tesla: como foram as demissões em massa de Elon Musk na equipe do Supercharger

Um dia antes de Elon Musk demitir praticamente todos os funcionários da divisão de carregamento de veículos elétricos Supercharger no mês passado, eles estavam esperançosos com a reunião que a chefe do departamento, Rebecca Tinucci, teria com Musk sobre o futuro da rede de carregadores da Tesla, afirmaram quatro ex-funcionários da divisão à Reuters.

Após Tinucci cortar entre 15% e 20% da equipe duas semanas antes, em meio a demissões mais amplas na Tesla, eles acreditavam que Musk confirmaria planos para uma grande expansão da rede de carregadores.

A reunião não poderia ter sido pior. Musk, segundo os ex-funcionários, não ficou satisfeito com a apresentação de Tinucci e queria mais demissões. Quando ela se recusou, dizendo que mais cortes prejudicariam os fundamentos do negócio de carregadores, ele reagiu demitindo-a e toda sua equipe com 500 membros.

As saídas deixaram de cabeça para baixo uma rede amplamente vista como uma conquista emblemática da Tesla e importante impulsionadora das vendas de veículos elétricos.

Os Superchargers (supercarregadores) da Tesla representam mais de 60% das portas de carregamento de alta velocidade dos Estados Unidos, segundo estatísticas federais, e a empresa foi a maior recebedora até agora de 5 bilhões de dólares de fundos federais para carregadores.

Esta reportagem, o mais detalhado relato até agora sobre as demissões na equipe do Supercharger e suas repercussões, é baseada em entrevistas com oito ex-funcionários da divisão de carregadores, um prestador de serviço e um e-mail da Tesla enviado a fornecedores externos.

Apenas Musk e Tinucci estavam na reunião descrita à Reuters. As quatro fontes com conhecimento da reunião transmitiram à Reuters o que ouviram de gerentes do programa Supercharger.

Tesla, Musk e Tinucci não responderam a pedidos por comentários da Reuters.

Apesar da demissão em massa, Musk já fez publicações nas redes sociais prometendo continuar expandindo o departamento. Mas três ex-funcionários da equipe de carregadores disseram à Reuters que têm recebido ligações de fornecedores, prestadores de serviços e concessionárias elétricas, alguns dos quais gastaram milhões de dólares em equipamento e infraestrutura para ajudar a construir a rede da Tesla.

Uma carta enviada neste mês por um gerente de fornecimento global da Tesla a prestadores de serviço e fornecedores do Supercharger os instruiu a “por favor, segurar o início de projetos de construção recém-concedidos” e interromper compras de material, segundo uma cópia analisada pela Reuters. “Eu entendo que este período de mudanças pode ser desafiador e que não é fácil ter paciência quando se espera ser pago”.

A equipe de energia da Tesla, que vende produtos de energia solar e armazenamento de baterias para residências e negócios, recebeu a tarefa de assumir o Supercharger e ligar para alguns parceiros para fechar projetos de construção de carregadores em andamento, afirmaram três dos ex-funcionários da Tesla.

Um fornecedor disse que os funcionários da Tesla que entraram em contato com a empresa desde as demissões “não sabem de nada”. Ele afirmou que esperava que os projetos do Supercharger representassem cerca de 20% das suas receitas em 2024, mas agora planeja diversificar para evitar depender da Tesla.

Tinucci era uma das poucas executivas de alto escalão da Tesla. Ela havia recentemente começado a responder diretamente a Musk, após a saída do chefe de Bateria e Energia, Drew Baglino, segundo quatro ex-funcionários do Supercharger. Eles afirmaram que, historicamente, Baglino supervisionou o departamento sem muito envolvimento de Musk.

As demissões marcam o mais recente drama em um ano turbulento da Tesla, com Musk fechando ou adiando várias operações essenciais destinadas a impulsionar o crescimento rápido de vendas de veículos elétricos que os investidores esperavam. Ao contrário, Musk agora diz que a Tesla mudará seu principal foco para carros autônomos, um negócio ferozmente competitivo e mais arriscado, que pode demorar anos para ser desenvolvido.

A empresa divulgou sua primeira queda em vendas de carros no primeiro trimestre desde 2020, em meio à competição forte de fabricantes de veículos elétricos chinesas e menos demanda mundial por veículos elétricos. A Reuters publicou em abril que a Tesla abandonou planos para um carro mais barato, e há muito tempo aguardado, conhecido como Model 2. Isso colocou em dúvida os planos da Tesla para novas fábricas no México e na Índia, para onde Musk viajaria no mês passado para se encontrar com o primeiro-ministro Narendra Modi, antes de cancelar de última hora. Além disso, vários executivos foram embora em meio a amplas demissões ao redor da empresa.

 

EXPANSÃO MENOR DE CARREGADORES

A equipe de energia que foi alocada para a administração da rede de carregadores tem cargos similares, segundo dois ex-funcionários da Tesla. Mas os projetos de carregadores são fundamentalmente diferentes porque eles ficam em espaços públicos e exigem extensas negociações com concessionárias, governos locais e proprietários de terrenos, disseram.

A equipe de energia já estava com dificuldades para se manter em dia com sua carga de trabalho, afirmaram dois ex-funcionários da rede de carregadores. No entanto, quando as demissões ocorreram, em 30 de abril, Musk publicou que a empresa “ainda planeja ampliar a rede Supercharger, apenas em um ritmo menor”. Na sexta-feira, Musk publicou que a “Tesla gastará bem mais do que 500 milhões de dólares para expandir nossa rede Supercharger para criar milhares de NOVOS carregadores neste ano”.

Dois ex-funcionários do Supercharger disseram que o orçamento de expansão de 500 milhões de dólares é uma redução significativa do que a equipe havia planejado para 2024 — mas, ainda assim, um desafio que exige centenas de funcionários. Em uma análise entregue à Reuters, a empresa de pesquisa EVAdoption, de San Francisco, estimou que um investimento de 500 milhões de dólares neste ano se traduziria na Tesla construindo 77% menos portas de carregamento por mês nos EUA em comparação com o ritmo da fabricante até abril.

 

“A VER NAVIOS”

A Tesla apresentou suas primeiras estações de Superchargers na Califórnia em 2012, com Musk dizendo que a rede era um “divisor de águas” para os veículos elétricos que permitiria viagens longas e conveniência “equivalente a carros movidos a gasolina”.

O negócio de carregadores de veículos elétricos exige um investimento inicial substancial, e os analistas muitas vezes o consideraram não lucrativo. Mas a rede da Tesla era lucrativa antes das demissões, segundo quatro ex-funcionários da Tesla com conhecimento do desempenho financeiro do departamento.

Isso acontecia por causa do controle de custos e análise extensa da Tesla para escolher locais que atrairiam clientes ao longo de todo o dia, não apenas em horários de pico, quando o preço da eletricidade dispara. Um ex-funcionário do Supercharger afirmou que os custos por porta de carregamento da Tesla eram tipicamente pelo menos 50% menores que os dos competidores.

Ainda no mês passado, a Tesla afirmou em um comunicado ao mercado que precisava expandir os carregadores para “garantir uma disponibilidade adequada” aos consumidores, especialmente após fabricantes como Ford, General Motors, Toyota e Hyundai anunciarem que começarão a fazer carros compatíveis com os conectores de carregamento da Tesla, dando aos seus veículos acesso aos Superchargers.

Outro ex-funcionário disse que esse lançamento está “completamente comprometido” porque não haverá novos locais de carregamento suficientes em operação e que a empresa está apenas começando a implementar atualizações para permitir mais compatibilidade com os veículos de outros fabricantes.

Três dos ex-funcionários disseram que as demissões são um grande revés para a expansão de carregadores nos EUA por causa dos relacionamentos que os funcionários da Tesla haviam construído com fornecedores e concessionárias elétricas. A Tesla havia se tornado uma das maiores clientes de grandes concessionárias ao redor do país e muitas contrataram novos funcionários e planejaram nova infraestrutura com base nos planos de expansão da rede da Tesla, segundo os ex-funcionários.

Outras empresas podem conseguir preencher a lacuna, de acordo com os ex-funcionários, mas será difícil replicar a boa vontade construída ao longo do tempo com as concessionárias e outros prestadores de serviço a partir dos investimentos de larga escala da Tesla.

“É simplesmente lamentável que eles agora estejam a ver navios em todos esses projetos diferentes”, disse um ex-funcionário. “É muito triste ver todos esses relacionamentos queimados e pessoas muito bravas — e com razão”.

(Reportagem de Chris Kirkham, em Los Angeles, e Hyunjoo Jin e Abhirup Roy, em San Francisco)



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